A história poderia começar de uma forma diferente, mas é o cenário das planícies da Prússia que dominava grande parte da então Europa Oriental, que começa a aventura daquele que será o nosso personagem. Os limites da Prússia se estendiam das fronteiras russas e polonesas às fronteiras da França, dos Pirineus italianos e da guerrida Áustria às ondas gélidas do mar Báltico.

Cavaleiros medievais, portando o estandarte da águia imperial, bramem suas espadas em guerras contra tribos ímpias e sob o signo da dominação e expansão de fronteiras, subjugam os bárbaros que se atreveram a defender seus territórios. A águia preta imperial tornou-se o símbolo da morte.
Os cruzados germânicos originaram os Cavaleiros Teutônicos, tinham em sua roupa o desenho da cruz, que tomava toda a parte frontal do corpo e nas costas ostentavam a águia imperial. Os escudos traziam a águia negra sob fundo branco, filetes de ouro rasgam suas asas fechando em cruz no peito da ave. Suas garras portavam a espada e um globo ostentando uma cruz, símbolo das Cruzadas.

O estado monástico dos cavaleiros deu lugar ao Império da Prússia e as terras invadidas foram dadas aos conquistadores pelo Papa Bonifácio IX. O império prussiano continuou a extensão de seus cavaleiros, tornando um estado temido e respeitado pelos povos europeus. Sucederam-se guerras e tratados, mas o exército bem armado e organizado garantia a unificação dos condados alemães, além da expansão territorial.Prússia molda a história da Alemanha e torna-se muito mais germânica do que as tradições de seus ancestrais. Berlim é a capital.

Em 11 de outubro de 1847, um ano antes da criação do Império Alemão, nasce Gustav Pruchner um camponês, posteriormente comerciante e com um espírito curioso e aventureiro. Aprendera em suas viagens de negócios alguns princípios da alquimia e estava atento às invenções que vinham surgindo no início do século XIX, entre elas a evolução da fotografia.

Fugindo da Guerra
As constantes guerras provinciais prussianas fazem com que diversas famílias abandonem o território. Nesse meio tempo o Brasil incentivava e acolhia os estrangeiros, pois necessitava de mão de obra especializada ou com conhecimento de algum ofício. Gustav Pruchner, ainda jovem, com aproximadamente com 20 anos, tinha o conhecimento do fazer cerveja e da fotografia, o que o ajudou na imigração.

Todo começar é difícil e muito mais num País que lhe era desconhecido e que as histórias que lhe tinham contado não condiziam com que estava vendo. Tinham-lhe dito sobre índios, casebres, pobreza e tantas coisas que a cada momento era surpreendido por imagens que jamais poderia imaginar. A sua referência era São Bernardo do Campo, onde já existia uma pequena colônia de alemães.

Chegando ao Brasil
Santos, porto onde desembarcou, uma cidade portuária, movimentada e a empolgação de trabalhadores por todos os lados, o impressionou. Criou coragem e resolveu dar uma volta nas proximidades. Ficou surpreendido pelo progresso que era presente em todos os lugares por onde passava. Sentia o cheiro do café, uma bebida que pouco conhecia. Enquanto passeava se deslumbrava pelo desenvolvimento que ali existia. Contavam-lhe sobre a beleza do mar que banhava a cidade e pelos casarões que ornamentavam a região praiana.

Não ousou conhecer e queria chegar o quanto antes ao seu destino. A viagem de trem subindo a serra foi mais uma aventura que jamais havia sonhado.

Da Cervejaria à Fotografia
São Paulo, acolhia os imigrantes e São Bernardo do Campo, município nos arredores de São Paulo, se despontava como um município industrial, pois diversas fábricas ali se instalavam. Eram indústrias principalmente trazidas pelos imigrantes italianos como serrarias e carvoarias. A cidade ficou marcada como a “capital” dos móveis. Tais atividades traziam compradores de diversas partes do Brasil. Foi dessa maneira e pelo desenvolvimento da região que começaram a “convidar” outros industriais. Foi assim que Carlos Prugner (*) resolveu montar uma pequena indústria voltada a produção de cerveja e licores.

Carlos Prugner falece no início do século. Seu filho Gustavo Prugner segue os passos do pai. As crises políticas que vinha se arrastando desde do início do século, a Lei Seca dos Estados Unidos e a revolução de 1924 marcam a história do Gustavo. Gustavo era apaixonado pela fotografia e isso o fez um fotografo profissional. A vida era difícil provocada pelas crises internas e internacionais. Respirava-se na época a Primeira Grande Guerra e em seguida a Revolução de 1924 provocada por São Paulo. Faltava inclusive comida. Faleceu neste mesmo ano.

Sagrou-se também como um grande fotógrafo devido os seus registros. Suas últimas fotos foram a construção do Edifício Martinelli, o maior edifício de São Paulo e da América Latina, do Viaduto do Chá e a outra seria de uma indústria paulista. Produzia também seu próprio papel fotográfico, pois tinha conhecimento do processo e os fabricava utilizando produtos químicos em um tanque de cimento para lavagem de roupa. Morreu em São Bernardo e foi enterrado no cemitério local. Seus filhos, em São Paulo, seguiram os passos do pai.


EDUARDO PRUGNER é consultor empresarial e sócio da Prugner’s Digital Marketing, palestrante, escritor e poeta. Informações sobre o tema pelo E-mail: eprugner@gmail.com