Nesta edição de maio a Revista Linha Aberta apresenta uma novidade aos seus leitores. Em parceria com o Projeto Superar e Ser Feliz, fundado pela Professora Anete Lobo, a revista Linha Aberta abre espaço para testemunhos de mulheres que passaram por traumas e sofrimentos.

O propósito é de inspirar os leitores através das histórias de superação destas mulheres. As fotos “antes & depois” da mulher selecionada para a matéria funcionam como uma metáfora indicando Dor X Superação dela.

O Projeto Superar e Ser Feliz inaugura a matéria do mês de maio com uma mulher muito especial, Rosana de Rosa, que conta uma comovente história de maternidade. A produção de Rosana foi de Danilo Versony do Studio-D Beauty & Hair Salon.

Rosana De Rosa é terapeuta e “personal coach”, cidadã brasileira e americana, formada em Psicologia e Programação Neuro Linguística pela FAU-Florida Atlantic University. Reside há 25 anos na Flórida atuando com atendimento profissional presencial e online. Envolvida com voluntariado desde a juventude, inspirou-se na experiência do próprio luto para criar a metodologia de acolhimento e apoio oferecida pelo Projeto Acolher Perdas e Luto.

O Projeto Acolher Perdas e Luto foi fundado por mim e mais 3 amigos há 5 anos, inspirado na luz da maternidade, replicando o valor do acolhimento às pessoas que estão vivenciando a partida de um ente querido e validando o servir como transformação na vida do ser humano. Venha fazer parte deste “ato de amor” www.projetoacolherperdaseluto.com.br.

APRENDIZADO:
Todos no luto precisam de ajuda.
Ninguém tem a resposta para a sua dor.
O vazio é preenchido a partir de um propósito.
Só saímos da dor através da ação.
Servir na dor do outro cura a nossa dor.

SOBRE O PROJETO
O Projeto Superar e Ser Feliz dispõe de uma lista de recursos com profissionais da área de saúde mental, grupos de apoio, e links com contéudo para dar suporte aos interessados em encontrar superação. Comentários, perguntas e sugestões podem ser enviados para Anete Lobo: superareserfeliz@gmail.com

Parcerias:
Studio-D Beauty & Hair Salon (maquiagem e cabelo da Mulher Destaque do mês)
Projeto Acolher Perdas e Lutos
Rosali de Castro Aguiar – Psicóloga, Advogada, Mediadora e Consteladora Familiar Sistêmica
Flavia Duarte – Mentora, Fundadora do Projeto Flavia Se Cuida, Líder do Grupo Mulheres do Brasil no Comitê de Violência

A chegada e partida do Luis Felipe

Aos 19 anos a notícia da gravidez trouxe-me a alegria de realizar o sonho de ser mãe. Apesar de jovem me sentia preparada, porque sempre tive na alma o desejo da maternidade. A gravidez transcorreu normalmente e eu desfilava feliz com a minha linda barriga. No oitavo mês, passei por uma experiência muito traumática, fiquei presa no elevador de serviço do prédio em que morava. Gritei por um grande período, mas ninguém me escutava. Até que consegui abrir a porta, e tive que subir aos prantos 8 andares com aquela barriga enorme.

Dias depois, minhas pernas começaram a inchar e o médico identificou que minha pressão estava alta e pediu um ultrassom. No táxi comecei a ter convulsões e depois de 17 horas, precisei fazer uma cesárea de emergência. Meu filho nasceu e viveu apenas dois dias, ele apresentou uma dificuldade respiratória devido o seu pulmão não estar totalmente formado. Na incubadora nós dois tivemos a oportunidade de um mágico contato. Ao colocar a minha mão ele rapidamente segurou o meu dedo indicador e pudemos trocar esta energia de amor.

A chegada e partida do Thiago

Quando me perguntaram se teria outro filho, eu dizia que não queria nem pensar sobre isso. Porém, a vida é generosa nas experiências do amor, e nove meses depois, estava grávida. Foram meses com misto de muita alegria e medo, até o nascimento do meu segundo filho. Thiago foi crescendo e vivemos os melhores dias das nossas vidas. Tivemos a honra de conviver durante os 9 meses da gravidez e mais 1 ano e 8 meses em que ele esteve conosco, até que eu vivi outra vez o desafio de lidar com a partida de mais um filho. O Thiago se afogou na piscina de casa.

Me sentia respirando, e graças à chegada da minha mãe, ainda pude sentir o cordão luminoso da vida, através do seu amor, pois naquele momento me sentia vazia e desconectada de tudo. Antes de ir embora, ela escreveu uma mensagem, que se tornou meu NORTEADOR dali para frente: “Filha, esta experiência é o despertar do seu coração generoso”. Senti no fundo da minha alma, meu propósito, mas ainda assim vivi por um tempo o “limbo” emocional do luto. Nada foi planejado, apenas aconteceu, mas no dia seguinte o sol insistia em nascer e tudo continuava funcionando, inclusive meu corpo que de forma automatizada me acordava e me fazia viver.

Na segunda semana, fiz uma descoberta importante sobre o poder da minha mente. Senti um caroço no seio e pensei: “Devo ser câncer”, e isso me deu uma sensação de misericórdia, um certo alívio, pensando que eu também seria levada. Passei alguns dias assim, até que percebi que minha mente estava co-criando uma realidade para me fazer ir embora e não precisar enfrentar a dor que a vida me impunha. Ali, percebi a força da minha mente; se não ficarmos atentos, temos o poder de criar ilusões que podem se tornar realidade.

Concluí, então, que com a força da luz do meu amor pelos meus filhos, usando essa mesma mente, eu poderia buscar uma forma de lidar com minha dor e acalmar meu coração. Nos meus primeiros passos, confesso que eu tinha dúvidas se meu corpo aguentaria e não sucumbiria neste caminho, pois a dor era intensa, não dava trégua, e me fazia sentir uma sobrevivente. Ao mesmo tempo, eu colocava em minha mente que: “Eu não posso passar em vão por esta história de amor. Meus filhos vieram para me ajudar a despertar o meu coração generoso”.

O primeiro aprendizado

Buscar ajuda. Busquei algo que já conhecia, a transmissão energética, pois precisava de energia para fazer esta jornada. No local, o coordenador me disse para voltar no dia seguinte para começar. Chegando lá, fui instruída por uma senhora amorosa que eu ajudaria no trabalho voluntário de transmitir energia para as pessoas. Fiquei espantada, pois fui em busca de receber e não tinha nada para doar, eu estava vazia. Porém, em algumas semanas, neste trabalho diário, senti que a vida estava me conduzindo e eu precisava desse amor que as pessoas gratas me ofereciam para nutrir a minha alma. Neste período, aprendi: “curamos nossas feridas acolhendo as dos outros”.

Aprendi a importância de ouvir os sinais que a vida envia, não permitindo que apenas o meu racional resolva, dando espaço para a minha sensibilidade e a confiança no universo, que “os porquês” sempre aparecem depois. Hoje, entendo e respeito o que sinto, valorizo esta forma como me conecto com a vida e posso fluir através dela.

O segundo aprendizado

Autocapacitar Decidi olhar para dentro, cuidar de mim, conhecer como eu via a vida, me amar e respeitar a minha história. Não me via mais como vítima, mas sim com gratidão pela oportunidade de amar meus filhos. Evitei medicações que me paralisassem para lidar com a minha dor e escolhi a terapia e a homeopatia como recursos para conhecer minhas emoções. Decidi olhar para minhas crenças sobre a morte e descobri a trajetória infeliz que a nossa cultura nos impõe durante o luto.

Resolvi que não precisava seguir o padrão de sofrimento, mas sim construir a forma como eu queria viver. Entender a finitude através da morte como parte do ciclo da vida foi libertador, pois tirei dos meus ombros todas as sombras de culpa, castigo e punição, reforçadas pelas crenças em relação ao luto. Senti que posso compreender os movimentos da vida e aprender com os desafios para ampliar minha consciência. Percebi o valor de honrar minhas experiências, pois elas oportunizam o caminho que vou escolher. Acolhi minha vulnerabilidade como parte de quem eu sou.

O terceiro aprendizado

Servir para me descobrir À medida que fui me capacitando e ganhando autoconfiança, decidi usar meu potencial a serviço da vida. Queria transformar o “servir” em meu trabalho diário, para me acolher e acolher o outro com seus desafios. Fiz a formação em psicologia para potencializar meu propósito, e o “servir” se transformou em uma prática para despertar meu coração para acolher e transbordar amor ao outro. Passei a honrar minha história como parte de minha humanidade e sinto muita gratidão por tudo que vivi, o que possibilitou eu aprender a gostar mais de mim, sem pena, sem vitimização, sem revolta, apenas entendendo que todo ser humano tem uma história, e essa é a minha, que estou transformando em um livro.