A EMPRESÁRIA QUE VIROU “BARBIE”.
A trajetória da empresária brasileira Adriana Etzler, 46 anos, nos Estados Unidos poderia ser parecida com a de muitos imigrantes que vão ao país norte-americano tentar uma vida melhor, buscar uma carreira promissora e bem-sucedida. Porém, ela foi mais além e chegou a ter uma “Barbie” estilizada com a sua figura, mostrando que o sucesso chegou graças a muito trabalho, empenho e fé.
Tudo começou quando uma aluna e amiga colombiana da Adriana, a Mayra Cristiano Vargas, que sempre a chamou de Barbie, começou a querer fotos e saber sobre os detalhes físicos dela. Daí veio a surpresa, quando a brasileira recebeu um spoiler com fotos de uma boneca e da caixa que a criação viria. Era uma boneca estilo Barbie inspirada na empresária, algo muito significativo para ela, pois tratava-se de um dos seus brinquedos preferidos, mas que a família nunca pode lhe dar.
As conquistas na vida da empresária vieram com muito esforço e dedicação, pois ela chegou ao país sem saber falar inglês ou espanhol, mas após três meses esse problema já estava resolvido. No início, ela conta que chorou dia e noite, pois não entendia uma palavra sequer e, em muitos momentos, pensou até mesmo em desistir. Ela relata que dizia o seguinte: “Gente, eu não vou mais, eu não consigo, pois eu não entendo nada, nada, nada!”. Foram três meses só estudando. Mas, após esse período, Adriana estava falando, lendo e escrevendo espanhol, idioma que se tornou a sua língua materna.
A vida profissional da atual cosmetóloga nos Estados Unidos teve início quando ela montou um salão de cabeleireiro na Flórida Keys, segmento no qual ela já tinha experiência no Brasil.
Após um tempo trabalhando como cabeleireira, Adriana conta que sentia uma grande insatisfação, um vazio que lhe incomodava. E, para solucionar essa questão, ela decidiu voltar a estudar e se tornou enfermeira, passando a investir na área da estética, mais precisamente dos injetáveis da clínica médica.
Porém, a brasileira relata que nesse segmento algo incrível aconteceu, pois ela pôde colocar em prática, no dia a dia da sua profissão, uma área pela qual ela sempre teve muita admiração: a Psicologia.
Como cosmetóloga, formada pela Universidade de Harvard, Adriana passou a lidar com as pessoas, compreender os anseios e as necessidades delas, e tudo aquilo que faltava para deixá-las completamente felizes e realizadas. ”Hoje, eu estou nessa área da reestruturação facial e corporal e isso me preenche, pois eu lido com pessoas, com o lado psíquico e, assim, eu entendo o que está acontecendo com elas” – diz
Ela conta ainda com muito orgulho que vem ministrando palestras também em Harvard e que, durante a sua primeira explanação, fez a seguinte pergunta aos presentes, mais ou menos 300 doutores de todo o mundo: “Vocês sabem o que é viver um sonho nunca sonhado?”. E afirma ainda: “É a gente viver cada dia como se fosse o único, depositando tudo nas mãos de Deus!” – resume.
Confira a entrevista que Adriana Etzler concedeu à Linha Aberta Magazine.
LINHA ABERTA – Como surgiu a ideia de criar uma boneca Barbie inspirada em você e qual foi a sua reação ao saber que seria modelo para um brinquedo conhecido em todo o mundo?
ADRIANA ETZLER – A ideia surgiu de uma amiga e aluna, a Mayra Cristiano Vargas, da Colômbia, que me disse: “Gorda – expressão que eles usam -, quando eu te vi, a primeira coisa que veio à minha cabeça foi a Barbie!” Inclusive ela sempre me chamou assim. Em seguida, me pediu uma foto e disse que queria saber tudo sobre mim, sobre o que eu tenho no meu corpo, as tatuagens e outros detalhes. Após duas semanas, ela começou a me mandar spoilers com fotos de uma boneca e da caixa do brinquedo. Então, me falou: “Lembra que eu sempre te chamei de Barbie? Agora você virou uma ‘Barbie’!”, e em seguida me mostrou a boneca. E isso foi a coisa mais linda do mundo! A ideia não foi minha, pois eu nunca pensei na vida em virar uma boneca, muito menos a Barbie, que no Brasil era muito cara. Quando eu era pequena, era louca para ter uma boneca dessa, mas era um brinquedo de rico. Então, eu só ficava fantasiando. Uma prima minha até tinha uma dessa e a deixava sempre dentro da caixa, então ninguém podia mexer. Quando eu ia na casa dela, eu pedia à minha tia para ver a boneca, mas eu não podia tirá-la de lá. E isso já era uma festa para mim. Quando eu vim aos Estados Unidos, comentei essa história com as minhas pacientes e a amiga Natalie Rodrigues foi quem me presenteou com a primeira Barbie loira da minha coleção, a médica. Depois, um paciente também me deu outra. Inclusive, essa amiga que fez a boneca inspirada em mim, viu a minha prateleira repleta delas e daí criou a minha.
LINHA ABERTA – Ter uma boneca inspirada em você é algo que só acontece para pessoas muito famosas e bem-sucedidas. Você se sente uma vencedora nos EUA? Se sim, em qual momento isso aconteceu?
ADRIANA ETZLER – Eu não me considero uma vencedora porque ainda tenho muitas coisas que quero trilhar, que pretendo conseguir no aspecto profissional. Mas, se for em comparação com outras pessoas que estão aqui há muito tempo e que não conseguiram chegar onde eu estou, daí eu posso dizer que sim. Porém, eu nunca busquei ter sucesso, mas trabalhar e estudar muito, porque eu vejo que quanto mais eu estudo menos eu sei, pois o meu trabalho não é para fazer qualquer coisa, mas lidar com pessoas, trabalhar a autoestima e o lado psíquico de cada um. Então, eu sempre busco primeiro trabalhar a mente do meu paciente, entender quem é ele, para só então desenvolver um trabalho no qual ele se olhe no espelho e se reconheça, se ame e que a sua autoestima possa lhe devolver a alegria de viver. Então, se isso é sucesso, eu sou bem-sucedida.
LINHA ABERTA – Você é uma empresária de sucesso, já está há 12 anos nos EUA e possui a sua clínica de estética no sul da Flórida. Qual era o seu pensamento ao chegar no país e os objetivos a serem alcançados?
ADRIANA ETZLER – Eu já estou há quase 13 anos nos Estados Unidos e no começo não sabia o que iria fazer. Eu tenho 23 anos na área de estética, na qual comecei como cabeleireira. No Brasil, eu tinha o meu salão e spa, então já trabalhava com isso há algum tempo. Como essa profissão é mundial, em qualquer lugar você consegue exercê-la. Portanto, eu vim para cá trabalhar como cabeleireira. Quando eu cheguei aqui em 2010 e morava nos Kyes, abri um salão num lugar que só tem americanos, que é de férias e praia, onde as pessoas não se preocupam com beleza, sem se cuidar ou querer fazer algo. Nessa época, havia um vazio dentro de mim, como se algo não estivesse sendo preenchido ou se eu estivesse no lugar errado. Então, eu sempre buscava mais para saber o que seria isso, e cheguei à conclusão de que aquilo não era para mim. Daí, eu fechei o salão, me mudei para outra cidade mais povoada, comecei a trabalhar para outras pessoas e continuei estudando, sempre buscando algo na área da estética. Eu fazia todos os cursos, tudo era diferente. Eu só me encontrei na área dos injetáveis da clínica médica, na parte da estética, quando me tornei enfermeira e comecei a fazer os cursos com cadáveres frescos, passando a entender a anatomia cada vez mais. Hoje, eu estou nessa área da reestruturação facial e corporal e isso me preenche, pois eu lido com pessoas, com o lado psíquico, pois assim eu entendo o que está acontecendo com elas.
LINHA ABERTA – Os EUA recebem muitos estrangeiros, estes que possuem o mesmo objetivo: “Fazer a América”. O que você fez para driblar as dificuldades e a concorrência?
ADRIANA ETZLER – Para mim não existe concorrência, pois nós temos um país gigante, cada Estado tem milhares de pessoas e, por mais que eu quisesse, eu jamais conseguiria atender todo mundo. Então, eu vim para os Estados Unidos legalmente, eu sou americana e o que eu faço é estudar, buscar fazer o meu melhor para os meus pacientes. Portanto, eu nunca penso em concorrência, pois isso não existe.
LINHA ABERTA – Como você avalia a sua trajetória na América?
ADRIANA ETZLER – A minha trajetória na América é sofrida como a de qualquer pessoa. Aqui é o país das oportunidades, um lugar incrível, uma “mãe” que está de braços abertos para nos ensinar e nos oferecer se “corrermos atrás”. Eu cheguei aqui sem falar inglês e espanhol, não conhecia ninguém, não tinha carro, não tinha dinheiro para comprar um. Eu ficava duas horas dentro de um ônibus para chegar à escola e, quando voltava, ficava até à 1h da manhã estudando para tentar entender alguma coisa. Durante as duas primeiras semanas, eu chorava dia e noite e dizia: “Gente, eu não vou mais, eu não consigo, pois eu não entendo nada, nada, nada!” Foi desesperador! Foram três meses só estudando, era livro, computador e dicionário. Mas, após esse período, eu estava falando, lendo e escrevendo espanhol, que se tornou aqui a minha língua materna. E até hoje eu estudo, pois não é fácil sair do seu país para emigrar em outro, pois tem as incertezas e os medos. Eu acho que todas as pessoas passam por isso, independentemente se elas têm um papel que lhes diga se estão legal ou não no país. Elas são imigrantes e sofrerão do mesmo jeito. O papel não mudará nada em suas vidas se elas não tiverem um bom inglês, se não souberem se virar e tiverem disposição para trabalhar. O “sonho americano” não existe! O “sonho americano” é acordar cedo, trabalhar todos os dias, estudar… é ser mãe, avó, esposa, dona de casa, cuidar dos cachorros e ainda ter tempo para se cuidar, fazer cabelo, unha, pois afinal de contas você é o espelho daquilo que está passando.
LINHA ABERTA – No Adriana Etzler Med Spa vocês prezam pela individualidade e pela desconstrução da padronização da beleza. De que maneira isso funciona e por que você priorizou essas questões?
ADRIANA ETZLER – Eu priorizo porque, hoje em dia, está tudo tão banalizado quando se fala em harmonização facial. É como se fosse uma fábrica onde todo mundo entra e sai com a mesma cara. É como se as pessoas fossem só um robô, onde chegam e colocam aqui quantidade x, ali x, ali… Pronto, está feito! E não é assim que funciona, pois as pessoas ficam transformadas, irreconhecíveis. Para muitos isso estava ok, mas para outros não havia melhora e sim piora, pois elas se olhavam no espelho e não se identificavam. Hoje, existe o antídoto para poder retirar o que não ficou de acordo. Mas, por que fazer isso? Por que não se trabalhar diferente, onde o menos é mais? O importante é estudar e entender cada caso, saber o que está passando com aquela pessoa, o que os signos da idade trouxeram para ela e daí devolver o que se perdeu. Então, eu tenho que reestruturar essa pessoa e devolver os anos que passaram, mas fazendo com que ela se identifique consigo.
LINHA ABERTA – O que você traz como diferencial na Adriana Etzler Med Spa e que faz com que muitas pessoas recorram até você e algumas até de lugares distantes para buscar os seus tratamentos?
ADRIANA ETZLER – Mais de 50% dos meus pacientes não são locais, muitos viajam horas de carro ou avião para estar comigo, porque eu busco a individualidade de cada um. Eu não quero dinheiro, pois isso é consequência de um bom trabalho. Portanto, quando você faz algo bem-feito, de coração e não só pensando na parte material, você consegue fluir bem. A honestidade deve estar acima de tudo, Deus na frente de tudo para o meu pensamento nunca mudar disso, pois lá atrás, quando eu era adolescente, o meu sonho era ser psicóloga, mas no Brasil isso era difícil. Porém, hoje, de certa forma, eu trabalho com o lado emocional das pessoas. Os meus pacientes, durante a primeira consulta, não ficam menos de uma hora comigo, pois eu preciso entendê-los. Eu não vou fazer nada que não deva ser feito ou algo para solucionar algum problema. Na verdade, será feito todo um planejamento que leva de dois a três meses até ser concluído 100%.
LINHA ABERTA – O que é essencial para você manter a sua saúde e cuidar da beleza?
ADRIANA ETZLER – Deus em primeiro lugar para cuidar da nossa mente e do nosso coração, para deixar a gente em paz, pois só assim conseguimos passar paz para as pessoas. Devemos saber que problemas todo mundo tem, mas se estes são profissionais, eles precisam ficar fora da porta de casa, e se são de casa devem ficar fora da porta da clínica. Só assim você consegue se entregar de corpo e alma para o que estiver fazendo no momento.
LINHA ABERTA – Como foi a sua experiência de ter estudado cosmetologia em Harvard e ensinar sobre o tema nos EUA e no Brasil?
ADRIANA ETZLER – Aqui eu me formei como cosmetóloga em Harvard, participo de conferências internacionais das quais na primeira vez eu fui como estudante, na segunda como speaker e tradutora oficial do curso em espanhol. Há pouco tempo, eu fui novamente para Harvard como estudante. A experiência foi única, engrandecedora como profissional e como pessoa, pois eu queria ser psicóloga algum dia e nunca pensei ter condições de ir a uma universidade. Hoje, eu digo que já estive três vezes na maior do mundo. Então, o mundo gira e Deus tem um plano na nossa vida que nem a gente imaginou!
A primeira vez que eu fui palestrar em Harvard, comecei a minha fala dizendo: “Vocês sabem o que é viver um sonho nunca sonhado?”, porque lá eu estava com mais ou menos 300 doutores de todo o mundo me assistindo. Então, a gente deve viver cada dia como se fosse único, depositando tudo nas mãos de Deus.
LINHA ABERTA – Qual é a dica que você dá para as pessoas que sonham em ter o próprio negócio num país estrangeiro? O que é importante saber?
ADRIANA ETZLER – O mais importante é a confiança em Deus e acreditar em si mesmo. Fácil não é, porém é mais do que vocês podem imaginar. A questão é que o medo destrói tudo. Hoje, eu paro, olho para mim e penso: “Gente, eu conheço tantas pessoas que estão aqui há mais tempo do que eu, que tem um inglês fluente, que para mim são super inteligentes, mas não têm nada, não fazem nada, vivem uma vida de escravos, trabalham dia, noite e madrugada, mas não têm uma casa própria, um carro, não têm business. Então eu digo: “A América é uma ‘mãe’, mas para quem sabe ser filho”. Portanto, se você não correr atrás dos seus objetivos, não espere porque ninguém o fará por você. Deus te dá as oportunidades, mas cabe a você enxergá-las e agarrá-las com “unhas e dentes”, além de ter um propósito na vida. Eu tenho três objetivos na vida a cada virada de ano. Desses, pelo menos um deles eu tenho que alcançar e os outros dois permanecem. Daí no ano seguinte, além destes que ficaram, eu coloco mais alguns. Portanto, é assim que hoje eu tenho o Adriana Etzler Med Spa.
BY @ALETHEAMANTOVANI – Fotos de Danielle Buljan @daniellebuljan