
FALA SOBRE A EXPERIÊNCIA DA PATERNIDADE E REVELA A RECEITA QUE FAZ ESPECIALMENTE PARA O FILHO GABRIEL
Texto de ALETHÉA MANTOVANI
@aletheamantovani

Que o chef brasileiro Guga Rocha, 45 anos, é um especialista em gastronomia e faz receitas maravilhosas todo já mundo sabe. Afinal, ele mostra o seu talento, semanalmente, no programa “Hoje em Dia”, da Record TV Américas, nos Estados Unidos, e Record TV, no Brasil.
Porém, o que ninguém imagina é que ele está se saindo um pai de mão-cheia ao experimentar, ao lado da esposa Elise Racicot, a criação do primeiro filho, o pequeno Gabriel, de apenas 9 meses.
A evolução do primogênito está sendo vivenciada bem de perto pelo chef de cozinha, afinal, devido à pandemia, Guga está gravando os seus quadros para o programa diretamente do seu apartamento. “É uma felicidade enorme acompanhar as pequenas mudanças do crescimento dele. É um amor que não tem tamanho!” – diz.
Em relação à alimentação do bebê, o casal está empenhado em oferecer comida saudável e de qualidade para o filho e optou pelo método BLW – “Baby Led Weaning” ou “desmame guiado pelo bebê”. De acordo com esse sistema, são disponibilizados alimentos saudáveis ao pequeno, como frutas, legumes e verduras em pedaços. A comida é colocada num prato em frente ao bebê, para que ele mesmo escolha o que tem vontade, pegue sozinho e leve o alimento à boca. Haverá, portanto, uma interação da criança com a comida, pela qual ela poderá sentir a textura, além de observar a cor de cada uma. “Nós tentamos introduzir ao Gabriel o que há de melhor, pois queremos que ele coma exatamente o que a gente está comendo” – comenta Guga.
E quando o tema é a educação do filho, o chef diz que pretende criá-lo com uma mentalidade global, ou seja, voltada para o mundo e livre de preconceitos. E espera que ele, algum dia, tente devolver algo para a sociedade.
Acompanhe a seguir a entrevista que Guga Rocha concedeu à Linha Aberta Magazine.

LINHA ABERTA – Como está sendo para vocês essa nova fase como pais de primeira viagem?
GUGA ROCHA – É realmente muito difícil e cansativo, às vezes a gente fica sem o controle da situação. Mas, ao mesmo tempo, é um aprendizado incrível, um amor que não tem tamanho, é uma felicidade nas pequenas coisas. Ser pai durante a pandemia é algo que agregou bastante nesse sentido porque, por eu estar mais em casa, o tempo inteiro, eu estou fazendo tudo. A gente não tem babá, então fazemos 100% de tudo. Porém, é uma felicidade enorme acompanhar as pequenas mudanças do crescimento dele.
LINHA ABERTA – Em quais questões vocês sentiram mais receio ou dificuldade, principalmente a sua esposa que está longe da família canadense, passou pela gestação e teve o bebê durante um período de pandemia?
GUGA ROCHA – Para a Elise, estar longe da família e dos amigos é realmente difícil. A melhor amiga dela é uma enfermeira de criança super top no Canadá, e também não ter um pai e uma mãe ao lado dela por causa da pandemia é complicado. Mas, ao mesmo tempo, a gente conseguiu enfrentar isso de uma forma muito tranquila e muito positiva. A pandemia, com certeza, é um fator estressante porque dificulta, entre várias coisas, a ida para uma consulta, de máscara, aquela coisa, o estresse e tal… E, a gente ter pego a pandemia inteira durante a gravidez e não saber como se passava o vírus então, “era por superfície, era pelo ar?” Então, tinha todo o estresse de uma preparação que, durante uma gravidez em época normal, não teria. Até o fato de poder ir a um café, sentar, tomar um chá, comer um docinho, a gente não fez, a gente ficou muito em casa. Mas, ao mesmo tempo, nós conseguimos tirar de letra, pois somos muito alto astral nesse sentido. E, como foi uma gravidez que nós queríamos muito, cada minutinho foi saboreado.
LINHA ABERTA – Você está gravando o seu quadro para o “Hoje em Dia” da sua própria casa. Foi fácil conciliar as gravações com os primeiros meses do Gabriel? Vocês já estão adaptados?
GUGA ROCHA – Não foi fácil. A gravação em si é muito difícil, porque eu estou fazendo algo sozinho e que antes eu estava acostumado a fazer com uma equipe, com produtor, iluminador, pessoal do som e câmera. Então, fazer tudo só é realmente muito complicado. Até uma pré-edição eu faço, recorto os vídeos para mandar, enfim. Mas, eu sou um cara muito de equipe, sabe? E acho que era a hora de realmente eu fazer algo pela minha equipe, pelo próprio quadro do programa, tentar fazer o melhor possível. O Gabriel está no comecinho, é muito bebê ainda e a gente faz tudo junto, eu e a Elise, pois dividimos todas as tarefas, então, realmente, é um fator complicador. Mas, a gente tenta não sofrer demais pelas coisas e procura ver sempre o lado positivo. É muito difícil, eu sei, mas a gente tenta comemorar as vitórias. O que está sendo difícil vai passar, é uma fase, bola pra frente. E nós temos a sorte que o Gabriel é um menino muito bonzinho, sabe? Ele dorme relativamente bem, não é de chorar muito, então isso ajudou bastante. Porém, estão sendo meses muito cansativos, mas a gente faz com amor, tanto cuidar dele, quanto do trabalho, então vai bem.

LINHA ABERTA – Vocês pretendem ter mais filhos, gostam da ideia de ter uma família grande?
GUGA ROCHA – Não sei, vamos ver! Isso é algo que a gente não decidiu ainda, mas pretendemos ter mais um, sim. Quem sabe! (risos)
LINHA ABERTA – Você acha que o mundo atual apresenta mais desafios para a criação de um filho?
GUGA ROCHA – Na verdade não. Eu acho que o mundo passa por fases, e cada uma delas exige um desafio diferente para a criação de um filho. Imagine como era na época dos homens das cavernas, dos neandertais, dos Australopithecus, Homo erectus, Homo sapiens? (risos). Imagina como era criar os filhos na época da Idade Média, sem calefação, sem fraldas? (risos) E depois, no Renascimento? Enfim, cada fase tem uma dificuldade, né? Eu acho que a gente não pode se ater às dificuldades, a gente tem que buscar soluções. Eu acho que essa é até uma mentalidade que eu tenho por ser chef de cozinha, ou seja, nós não temos tempo para chorar o leite derramado. Beleza, aconteceu isso? Como a gente resolve? Qual a melhor forma e a mais positiva de se resolver isso para o astral ficar alto e para a moral ficar alta? Então, eu acho que todas as fases tiveram dificuldades diferentes. Eu imagino a minha mãe sem máquina de lavar, de secar e com quatro filhos. Ela tinha uma dificuldade muito maior do que hoje em dia. Talvez hoje não imponham mais desafios, mas novos desafios, que são de adaptação a essa coisa da pandemia e tudo mais. Mas, isso não quer dizer que são melhores ou piores.
LINHA ABERTA – De que maneira você pretende educar o seu filho? Quais são as questões importantes para ele viver nos dias atuais?
GUGA ROCHA – Eu pretendo educar o meu filho com a cabeça muito global, voltada para o mundo, pensando sempre que somos todos iguais, independente de raça, cor, sexo e religião. Eu quero que ele seja um menino que tente devolver algo para a sociedade, quero sempre que ele entenda que rico não é o homem que tem muitas posses, mas aquele que consegue modificar a vida das pessoas e contribuir de uma forma positiva. Ele deve saber que ninguém é uma ilha ou vive só, que é importante viver em grupo. Espero também que ele possa ser útil para a sociedade, que não seja um menino com preconceitos, que saiba sempre que todo mundo tem o direito de viver da forma que achar melhor, que tenha a cabeça de uma pessoa da época dele, do século dele e que pense positivamente.
LINHA ABERTA – Você é um expert em gastronomia, conhece muito sobre os alimentos e também sobre o que é mais saudável. Diante disso, você pretende oferecer um cardápio diferenciado ao Gabriel, uma alimentação orgânica e mais natural?
GUGA ROCHA – Sim, nós já estamos introduzindo alguns alimentos. A gente optou pela BLW, que é uma
alimentação regrada, que possui comida de verdade, pela qual o bebê pode interagir de certa forma, ou seja, não são dadas somente papinhas, mas alimentos dos quais ele pode sentir a textura e tal…
A gente já introduziu ervas, especiarias, obviamente sem pimenta, sem açúcar, sem sal, sem mel, todas as coisas que são negativas. Nós oferecemos alimentos para que ele tenha prazer ao comer, caso contrário, se alimentar fica um ato mecânico. E isso tem que ser divertido, tem que ter textura, cor e ele tem que interagir com a comida. Então, a gente tenta ao máximo entregar para ele o que há de melhor. Muitos amigos falam: “Orgânico é caro!”, mas aí o cara fuma cigarro. Eu digo: “Você sabe quanto custa um maço de cigarros?” Então, o que é caro? Um pé de alface que custa 6 reais ou um maço de cigarros? Portanto, tudo na vida é uma opção! Nós queremos que o Gabriel coma exatamente o que a gente está comendo. Ou melhor, nós tentamos comer exatamente o que o nosso filho está comendo para que ele não se sinta à parte.
LINHA ABERTA – Qual é o futuro que você espera encontrar para o seu filho?
GUGA ROCHA – Eu sou uma pessoa muito otimista e acho que o mundo está numa fase de trevas agora, mas que estamos indo para uma sociedade mais sustentável. Eu acredito muito nesse próximo século, principalmente com o advento do Biden nos Estados Unidos, e nesse investimento grande em energias renováveis que irá acontecer, com carros elétricos, enfim. Eu acho que o mundo vai passar por uma revolução muito grande, inclusive mercadológica, e até vai existir uma modificação de cima para baixo, não só de consumo, mas na cadeia produtiva. E quem não estiver alinhado a isso talvez fique para trás. Na minha opinião, o mundo que o meu filho vai encontrar será pior por um lado, pois existem mudanças climáticas irreversíveis e que já estão acontecendo cada vez mais. Porém, ele irá encontrar uma sociedade lutando contra isso. Eu acho que esse futuro será mais interessante, espero que seja de paz e que a humanidade esteja mais evoluída.
LINHA ABERTA – Você pode compartilhar alguma receita que tenha feito em homenagem ao Gabriel?
GUGA ROCHA – Uma receita que eu faço e ele adora é uma bem tradicional nossa e dos nossos indígenas, o mingau. Então, eu faço com:
– 1 litro de leite de castanha de caju, mas pode ser leite de coco, de amêndoa ou de castanha do Pará, pois ele ainda não consome o leite de vaca;
– 1 xícara de polvilho doce;
Coloque os dois ingredientes numa panela, em fogo baixo e vá mexendo até a mistura começar a engrossar. Depois, corte uns pedaços bem pequenos de banana e misture com os demais ingredientes. Coloque também um pouquinho de canela e sirva.
Ele adora e a gente também, então fica bom para toda a família.
