Para o bem e para o mal, os hormônios femininos costumam exercer forte influência nas relações entre homens e mulheres. Mas, segundo pesquisadores da Universidade de Oklahoma (EUA), além da diferenciação sexual, o estrogênio, principal deles, é essencial às funções auditivas.
Em experimentos com pássaros, a equipe descobriu que, para que o cérebro entenda, memorize e diferencie as informações que chegam aos ouvidos, ele depende totalmente do hormônio.
Segundo o neurocientista brasileiro Raphael Pinaud, chefe do estudo publicado no “Journal of Neuroscience”, a ligação de problemas auditivos com a síndrome de Turner (doença genética causada pela ausência de um cromossomo feminino) e com a menopausa ajudou a nortear a pesquisa.
“Todos achavam que a perda hormonal e a auditiva, apesar de ocorrerem simultaneamente, não estavam diretamente ligadas. Percebemos que a perda auditiva pode ser diretamente causada pela perda hormonal.”
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Mas isso não significa que as mulheres escutem melhor que os homens.
“Obviamente, as fêmeas têm níveis muito mais altos de estrogênio do que os machos. Mas esse é o estrogênio periférico, produzido por ovários e testículos. No cérebro, onde é produzido o estrogênio que controla a função auditiva, isso não é verdade, os níveis são idênticos”, explica Pinaud.
E é a ausência desse “estrogênio local”, atuando como neurotransmissor –uma espécie de “mensageiro químico” do cérebro– que bloqueia nossa audição, mesmo que os ouvidos estejam em perfeito funcionamento.
TRATAMENTO
Pinaud diz que o próximo passo de sua equipe é encontrar um tratamento para problemas auditivos causados pela falta do hormônio.
“Mas tratamentos convencionais com estrogênio não seriam a solução. Apesar dos efeitos positivos, ele induz a carcinogênese –ou seja, aumenta a probabilidade de vários tipos de câncer”, afirma.
Um outro efeito colateral possível do estrogênio é a “feminilização” de um organismo masculino que se submetesse ao hormônio.
Uma alternativa para esses casos é o uso de fitoestrogênios –ou seja, hormônios similares aos do ser humano, mas extraídos de plantas. Entre eles, a equipe de Pinaud busca aqueles que atuem na audição e não provoquem efeitos indesejados. “Temos 12 fitoestrogênios possíveis até agora”, diz.
Outra possibilidade é a produção artificial desse tipo de substância.