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O que eu posso fazer pelo mundo?

Eu não tenho nada a ver com a destruição do planeta, não corto árvores e nunca tive uma serra elétrica em minhas mãos. Não despejo substâncias químicas em rio algum, sequer pesco neles. Eu não tenho culpa se há animais se extinguindo ao redor do globo, não sou criador de qualquer tipo de bicho e tampouco sou caçador. Não sou industrial e, desta forma, não libero gases que destroem a camada de ozônio. O máximo que faço é soltar alguma fumacinha no ar por causa do automóvel que tenho, mas isso todo mundo faz, afinal, quem não gosta de um pouco de conforto?

Eu não sou presidente da república, nem senador, nem deputado, nem governador, nem prefeito ou vereador, nem sou filiado a qualquer instituição de caráter político. Não faço as leis e não as aprovo. Não comecei guerra alguma em qualquer país, nem implantei regime de qualquer ordem. Não sou economista e não sugiro um modelo econômico ideal. Não emito dinheiro, normalmente tenho pouco dele. Não tenho nada a ver com as injustiças noticiadas todos os dias. Não sou filósofo e não culpo os antigos pensadores chineses, gregos, árabes ou alemães. Nada posso fazer ante a falta de conhecimento de tanta gente. Não sou ministro ou secretário de educação, não cuido do investimento educacional dirigido ao povo.

Eu não tenho nada a ver com a população, nem a infantil. Cada um cuida do que é seu. Não fui eu que coloquei essa criançada no mundo. Não posso responder pelos atos alheios, seria uma invasão de privacidade e um desrespeito aos direitos legais constituídos. Eu não tenho nada a ver com a fome mundial, só dou conta, com dificuldade, da minha própria. Não pertenço a ONU, e ainda que lá estivesse nada poderia fazer para encher as mais de um bilhão de barrigas famintas à espera da morte. A propósito, não sou uma divindade que decide quem vive ou morre, sou um simples mortal. O que eu posso fazer pelo mundo?

É verdade, não tenho nada a ver com isso tudo. Sou apenas alguém com poucos recursos frente aos muitos problemas. Por outro lado, contudo, se eu não me enganar a fim de fugir de mim mesmo, é bem verdade também que tenho uma inteligência capaz de criar boas ideias e concretizá-las, a minha experiência de vida cansou de provar tal sorte. Achei cada solução para os meus problemas que até Deus duvida! Mas eu ajo assim somente quando é do meu interesse. Não obstante, sei claramente que consigo ajudar a outrem e receber em troca uma extraordinária sensação interior de paz e conforto (“Nada se iguala a tal benção!”, dizem aqueles que experimentam o ato altruísta). Assim, enxergo um pouquinho além: eu também ganho. Se o planeta sobreviver, eu sobrevivo. Ajudando, sou ajudado. Quando eu faço algo pelo mundo, eu o faço por mim também.

É verdade, ainda, que apesar de ser apenas um pálido número solitário, quando diminuo o egoísmo e aumento o altruísmo, perco de vista a fraqueza e consigo enxergar a grandiosidade humana em numeração elevada a indescritíveis potências que se perdem nos resultados cujo valor ultrapassa em muito qualquer especulação. É a matemática dos sonhos! Descubro nestes momentos o potencial e os prováveis alcances dos quais dispomos. Mas entendo também que é preciso ter um ponto de partida. E começar. Do contrário, o meu pouquíssimo saber e a minha empobrecida fé não serão capazes de acender a chama da vontade, única capaz de nos levar a qualquer mudança. É a luz que tudo clareia! Não sou uma divindade, mas sou parte dela, talvez eu possa muito mais do que acredito poder…

É preciso olhar para si mesmo, todavia. Com certo entendimento, podemos avançar, pois você já se deu conta que a compreensão acerca da vida é a interpretação que cada um de nós dá em relação a ela? Que essas interpretações estão sujeitas às impressões emitidas pelos outros, e se não tivermos uma boa capacidade reflexiva pessoal, ficamos reféns da aglutinada compreensão que comumente teme o propósito comunitário da ajuda? Ao me acorrentar às ideias fabricadas socialmente é ai que eu me isolo e me distancio da liberdade do pensamento individual, não é?

Posso perceber, então, que nada tenho a ver com qualquer coisa além de mim quando me encontro isolado no meu pequeno mundo cujo medo é a atmosfera que com frequência respiro. Ou que ao sair deste espinhoso isolamento, o amor maior parece desabrochar, mostrando-me que sou mais do que eu me permito ser ao dar o tão corajoso quanto incomum passo na direção do todo, mesmo contra qualquer crítica previamente embalada para o fácil consumo das convenientes justificativas, ou contra o profundo pavor pessoal de falhar. Eis o que eu posso fazer.

Eu posso fazer algo pelo mundo, mas é possível fazer bem mais quando muitos decidem fazê-lo também.

» Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo, palestrante, professor e mestre em Liderança. Coautor dos livros Gigantes da Motivação, Gigantes da Liderança e Educação 2006. E-mail: selfcursos@uol.com.br

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