Autoengano, resumidamente, é a capacidade de criar idéias que assumem veracidade para quem as criou. Não se trata, portanto, de uma mentira, pois que a mesma não se sustenta aos olhos do mentiroso; ele sabe conscientemente que é uma farsa. Então, autoengano é uma invenção que dá certo na cabeça do seu inventor, levando-o a crer nela. A prova de que o autoengano é tão eficiente em sua proposta se demonstra quando é possível enxergá-lo: “defeitos” que passam a ser percebidos no outro depois de ter-se experimentado uma decepção significativa, por exemplo. De tal descoberta pode advir a raiva, fruto da descoberta sobre a própria cegueira. No entanto, o autoengano reaparece, levando a pessoa a crer-se vítima e a acusar o outro até então revestido de incontáveis e intocáveis qualidades. Mais: não investir na formação intelectual e se queixar frustradamente da falta de sorte no mercado de trabalho também expressa sobremaneira o jogo proporcionado pelo autoengano.
Não obstante, a existência de tal artimanha se explica pela sua importância relacionada à defesa psíquica (criada pela natureza desde há muito tempo) da qual dependemos para ajustar necessidades e desejos pessoais e, sobretudo, suportar os reveses da vida, notadamente os fracassos, insistentemente atribuídos aos outros e às circunstâncias. Assim, o autoengano deve ser entendido como um escudo que se ergue diante de ameaças contra as quais não conseguimos lidar num dado momento. Mas exagera-se no seu uso, pois ao invés de baixar oportunamente tal defesa e prosseguir enxergando a realidade para se crescer através dela, ainda que cause o necessário mal-estar que inquieta e provoca o desenvolvimento, a acomodação e o medo levam à inadequada e permanente empunhadura do escudo. Por conseguinte, pelo decorrente bem-estar gerado, a pessoa permanece vivendo boa parte da sua vida sob a condição autoenganada. Ela desperdiça, pois, excelentes chances de crescimento. Às vezes patina na jornada evolutiva. Às vezes estaciona. Com o tempo, nessas condições, passa a descrer de si mesma, se frustra, e aceita a triste sina (autoimputada) que o “destino” lhe reservou. É mais simpático socialmente e menos dolorido emocionalmente ver por esse ângulo. A culpa recai sobre o mundo.
Não bastasse tal fato, é preciso considerar ainda o reforço social existente cuja força alimenta e faz manter tamanho atraso diante de tanto potencial que se tem à frente. Ou seja, em razão de a grossa maioria das pessoas ao redor do mundo viver em nível de desenvolvimento similar (ainda que se diferenciem claramente questões intelectuais e materiais), o autoengano, todavia, está presente em todos, sem exceção. Quem não precisa de defesas, sejam elas biológicas, sociais ou psíquicas? Portanto, o autoenganado reduz a capacidade de analisar a si mesmo porque se sente igual aos demais de convívio. “É assim mesmo…”, justifica-se. O que não se percebe, infelizmente, é que por trás da cegueira, da acomodação e do inadequado reforço social, reside o autoengano, importante, mas capaz de acorrentar (mais do que qualquer outro modelo de escravidão já visto!) o ser humano à falta de conhecimento sobre si mesmo e ao pesado atraso que reduz excessivamente a velocidade da roda evolutiva. No entanto, felizmente, há alguém com poder de refletir e autorizar a mudança essencial para reduzir gradativamente o alcance do autoengano e oferecer ajuda e maior crescimento: você.
Já pensou nisso?
Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo, palestrante, professor e mestre em Liderança.
Coautor dos livros Gigantes da Motivação, Gigantes da Liderança e Educação 2006. E-mail: selfcursos@uol.com.br