A bússola eleitoral demonstra não indicar o caminho do bem comum, pois o egoísmo está na base das escolhas feitas por considerável parcela da população que, embora privilegiada pela democracia, consegue ver apenas o seu interesse, sobretudo o financeiro, cuja variação se dá conforme o modelo da política econômica adotada (“a mão visível do estado”, por exemplo). Mais: sequer é capaz de lançar os olhos à frente e projetar o futuro, fruto do desespero imediatista que impede qualquer planejamento que valorize o amanhã. Quantos se preocupam com a qualidade da educação a ser conquistada no porvir, compreendendo claramente que tal projeto tem seu início no aqui e agora? Quem se inquieta permanentemente pelo desenvolvimento de tantas crianças que não os próprios filhos? Você lutaria pela evolução da criança alheia?
Desde a Grécia Clássica, em Atenas, é antigo o questionamento sobre a democracia, no qual se propunha a seguinte reflexão: sendo os negócios de estado tão importantes e difíceis de lidar, que razões levam muitos a deixá-lo à mercê da sorte através dos votos que podem tanto eleger alguém competente quanto incompetente? Por que não se segue a rotina comum relacionada à escolha segura de um médico de confiança quando se adoece, ou de um experiente navegador para se empreender uma viagem marítima? Ou ninguém dá a mínima para tais opções?
Assim, além do sorteio que tanto pode acarretar em benefício como em prejuízo, deve-se considerar o egoísmo presente em cada preferência eleitoral. O eleitor diz a si mesmo: “eu darei o meu voto para quem atender melhor às minhas necessidades, pois tenho que lucrar alguma coisa com isso”. Aparentemente, esta é uma afirmação que expressa justiça segundo o senso comum. Afinal, é um direito lutar pela própria defesa. Claro que sim! Está em nossa natureza o impulso à sobrevivência. Contudo, além da força natural, possuímos a inteligência. Todavia, não deve ela nos guiar em favor próprio e dos demais também? Não é sinal de maturidade ajudar-se e ajudar a outrem? Desprezar o auxílio mútuo não é agir imaturamente? Egoísmo e altruísmo não devem caminhar de mãos dadas, haja vista um ser inevitável e o outro essencial para o controle do seu oposto?
Não é fácil e tampouco simples alcançar a necessária sabedoria que acolha as necessidades pessoais e alheias, notadamente na hora de votar, ao desconsiderar os efeitos das escolhas sobre muitos e não apenas sobre si mesmo. Imaturidade democrática? Como não estranhar o modelo de democracia que teima em não desprender-se das fraldas do descaso?
Não está na hora de investir na maturidade democrática e estender a nossa preocupação política aos demais de convívio? Será que não vale a pena cobrar mais de si mesmo quanto à necessária reflexão relacionada às escolhas que se deve fazer nas eleições, avaliando competentemente cada candidato, além de carregar no peito o forte desejo de eleger quem lute pelo desenvolvimento e evolução de muitos? Ainda: Não deve o eleitor fiscalizar se o político eleito democraticamente cumpre com os projetos propostos ao longo do seu mandato?
A democracia é fundamental. Mas ela requer um intenso exercício de cidadania. Tal prática é percebida na sociedade? Requer-se o aperfeiçoamento político, o avanço à liberdade, contidos no processo evolutivo da democracia. Será possível chegar à grandiosa estatura do bem comum sem se despojar, em parte, do egoísmo que impede a manifestação da democracia altruísta? Como elevar o cidadão à liberdade, igualdade e fraternidade com base na imaturidade democrática? Mais: a história já não provou que as pessoas alegram-se em perceber que um bem maior lhes inspira o desejo de persegui-lo, levando-as ao empenho altruísta e à consequente união, mudando regimes até então estabelecidos? Reis e práticas autoritárias não tiveram os dias contados diante de fervorosas mudanças políticas percebidas favoravelmente, em cujo bojo havia valores fundamentais capazes de encaminhar o ser humano à progressão pessoal e comunitária?
Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo, palestrante, professor e mestre em Liderança. Coautor dos livros Gigantes da Motivação, Gigantes da Liderança e Educação 2006. E-mail: selfcursos@uol.com.br