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Como anda a saúde financeira do Brasil?

Os efeitos da crise econômica nos Estados Unidos e no mundo já podem ser sentidos no Brasil. Podemos citar como exemplos, a queda do real em relação ao dólar, o número de empresas que estão demitindo seus funcionários no país e o início da retração na economia. Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva encorajou os brasileiros a consumirem para manter o ritmo da economia e impedir o desemprego.  Resta saber como os analistas políticos estão vendo os efeitos da crise econômica mundial no Brasil para se ter um panorama mais próximo da economia brasileira.

Num relatório divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgado em meados de janeiro, em Paris, as perspectivas econômicas para o Brasil continuam mais positivas do que para os países ricos e outras grandes economias emergentes, como a China, Índia e Rússia. A organização prevê que o Brasil é o único dos 35 países analisados no novo Indicador Composto Avançado que não deverá registrar forte desaceleração econômica nos próximos seis meses. A OCDE estima que o país deve registrar apenas uma “leve desaceleração” de sua atividade econômica.

Apesar disso, o Indicador Composto Avançado em relação ao Brasil caiu 1,1 ponto em novembro na comparação com os dados do mês anterior e está 2,9 pontos abaixo do nível registrado há um ano. Mas o Brasil é o único do grupo das 29 economias que integram a OCDE e os seis países não-membros da organização analisados neste último relatório que ultrapassa a barreira de 100 pontos, utilizada como referência para classificar o nível de atividade econômica dos países.

Neste novo indicador, o Brasil totaliza 101,2 pontos, enquanto os demais 34 países estão abaixo dos 100 pontos. No relatório anterior, o Brasil registrava 102,3 pontos. Para calcular o Indicador Composto Avançado, a OCDE leva em conta vários indicadores econômicos de curto prazo ligados ao Produto Interno Bruto (PIB), como a produção industrial, por exemplo.

No entanto, a situação econômica brasileira deve sofrer com a crise mundial. A última edição da revista britânica The Economist afirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá de governar na defensiva neste ano, apesar de seus altos índices de popularidade. Um dos principais motivos para isso seria a crise econômica.

Segundo a revista, “até as eleições presidenciais, a maior parte das energias de Lula deve ser gasta no gerenciamento da crise”. O texto afirma que muitos brasileiros que esperam que 2009 seja melhor que 2008 devem se “decepcionar”, já que a economia apenas começou a sentir os “solavancos” da crise.

Para a Economist, a tarefa de gerenciamento da turbulência econômica deve ser complicada, já que o espaço para lançar estímulos fiscais no Brasil é “limitado”. A revista compara a situação do país com a do Chile, que anunciou em janeiro um plano de estímulo de US$ 4 bilhões e que pode facilmente administrar o déficit fiscal resultante, por ter acumulado reservas quando o preço do cobre – seu maior produto de exportação – estava alto.

“Mas o governo brasileiro, que tem uma dívida pública muito maior, precisa preservar o seu superávit fiscal para reter a confiança dos proprietários de títulos.” A revista ainda afirma que a arrecadação de impostos deve diminuir com a retração da economia.

PERSPECTIVAS ECONÔMICAS PARA O BRASIL EM 2009
Luiz Henrique Perlingeiro 

Para entendermos as perspectivas econômicas para o Brasil em 2009 precisamos fazer uma pequena análise sobre a projeção que foi feita para 2008 e verificar o que realmente aconteceu ano passado em relação ao mercado econômico brasileiro. A crise financeira mundial atropelou as previsões feitas pelos analistas econômicos no início de 2008, causando discrepâncias consideráveis entre as projeções e o que revelam os indicadores econômicos. Isto tem gerado muita ansiedade e um largo número de previsões. O Boletim Focus (uma pesquisa semanal feita pelo Banco Central com cerca de 80 instituições ligadas ao mercado financeiro), mostrou os seguintes erros nas estimativas:

INDICADOR PREVISÃO PARA 2008 O QUE ACONTECEU
Dólar Entre R$1,80 e R$1,90 R$2,41
IGP-M Entre 4% e 6,2% 9,8%
IPCA (índice oficial de inflação) 4,3% 5,9%
Taxa de Juros (Selic) 10,75 % 13,75%
PIB 4,5% 5,6%
Saldo Comercial US$31,9 bi US$24.7 bi
Conta Corrente c/ Exterior Déficit US$4,3 bi Déficit US$29 bi

 

Diante deste fato, podemos afirmar que será difícil fazer projeções sobre a situação econômica brasileira em 2009 porque as incertezas no mercado financeiro continuam. E vários questionamentos estão sendo levantados. Sendo os EUA o epicentro da crise, como a economia americana reagirá às diretivas do novo governo? Este é um fator de fundamental importância na medida em que no Brasil a contaminação econômica deu-se através da fuga de capitais, elevando a cotação da moeda americana, à restrição do crédito com impactos diretos na economia real, que limitaram tanto os investimentos das empresas quanto as compras dos consumidores finais, além do financiamento das exportações.

Em médio prazo, no horizonte de um ano, este quadro deverá permanecer inalterado, e com isso, podemos dizer que a estimativa de crescimento da economia brasileira em 2009 caiu com força na pesquisa semanal Focus, com a previsão de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) caindo de 2,4% para 2%. A projeção de crescimento zero para 2009 feita pelo Morgan Stanley é mais pessimista do que o consenso do mercado apurado por este boletim do Banco Central. Num caso ou noutro, embora 2% seja um número muito mais aceitável do que zero, o que se está prevendo para o Brasil é muito ruim e representa uma mudança drástica de percepção. E a previsão oficial do governo brasileiro, de um crescimento de 4%, apresentada pelo governo na proposta orçamentária de 2009 parece uma utopia.

Deixando de lado as “previsões imprevisíveis”, a economia real já vive os seus dias de turbulência: A ANFAVEA (Associação Nacional dos Veículos Automotores) divulgou que a produção de veículos caiu 57% em dezembro de 2008, com relação a dezembro de 2007, e 47% em relação ao mês anterior, novembro de 2008. As montadoras de veículos demitiram 1.968 funcionários em dezembro, e a GM, 744 funcionários até a segunda semana de janeiro de 2009. No Vale do Aço e do Quadrilátero Ferrífero em Minas Gerais, as mineradoras e autopeças já demitiram desde novembro 6.700 trabalhadores. Até o fechamento desta edição, os números sobre a performance de janeiro ainda não estavam disponíveis, mas a situação não deve ser diferente.

Neste cenário teremos em 2009 um ciclo vicioso. As famílias estão mais endividadas, e as pessoas devem se preparar para pagar os débitos já contraídos, em vez de assumir novos financiamentos. Com a onda de desemprego, as pessoas também têm medo de consumir. As empresas, por sua vez, devem refrear os investimentos, num quadro de desaceleração econômica, bem como enxugar custos e num mundo em recessão, com queda das commodities, as vendas externas brasileiras devem cair, isto tudo junto gerando mais desemprego, e assim vai o ciclo.

No “front” do crédito, a liquidez continua “empoçada” nos bancos, fruto da crise de confiança, e as taxas de juros estão em patamares proibitivos no Brasil, sendo praticados juros médios de 40% aa. para empresas e 150% aa. para pessoas físicas. A taxa referencial para o mercado SELIC, hoje em 13,75 aa. é a mais alta do mundo, e o Banco Central é um dos únicos que ainda não entenderam que a preocupação não é mais com a inflação, e sim com a demanda. Uma realidade diferente dos Estados Unidos, onde os juros estão caindo, uma estratégia do FED para girar o mercado econômico.

Previsões econômicas são geradas por modelos matemáticos, um casamento de teoria econômica com técnicas estatísticas que tentam reproduzir o funcionamento básico da economia com base em dados do passado recente. Em 2008 o mundo sofreu uma crise em magnitude em características nunca antes experimentada, e pelo visto ainda ficaremos no “olho do furacão” por algum tempo, não há quem arrisque um prognóstico firme para os indicadores econômicos em 2009.

Aos analistas de mercado, economistas, investidores, técnicos, etc., nada melhor do que a letra de um samba enredo escrita em 1978, absolutamente atual: “Como será amanhã? Responda quem puder! O que irá me acontecer? O meu destino será como Deus quiser!”

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Luiz Henrique Perlingeiro é Consultor Chefe da Westchester International Corporation, Ex – Diretor do Unibanco e Vice-Presidente do Citibank/Brasil. Informações sobre o tema pelo e-mail: perlingeiro@westchesterintl.com.

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