Texto LAINE FURTADO
@LINHAABERTAMAGAZINE
Mais de 160 potenciais vacinas contra a Covid-19 estão sendo investigadas ao redor do mundo. Destas, 42 já passaram para a fase de testes em humanos e, dentre elas, 10 estão na terceira e última etapa antes de uma possível aprovação por órgãos reguladores – o que possibilitaria a distribuição para a população -, de acordo com atualização mais recente feita pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
Esses imunizantes mais avançados nos estudos utilizam quatro técnicas distintas para tentar prevenir a infecção pelo coronavírus. Algumas delas são inovadoras e outras são tradicionais. Nesta matéria, apresentamos 10 vacinas que estão na fase 3 e qual o mecanismo utilizado por cada uma dela.
- OXFORD-ASTRAZENECA (REINO UNIDO)
A vacina de Oxford é a que está com o desenvolvimento mais avançado no mundo, sendo a única a chegar à terceira fase de experimentos. A universidade britânica fechou parceria com a farmacêutica AstraZeneca e já está até mesmo produzindo doses em larga escala antes da conclusão dos experimentos. A pesquisa avançou tão rapidamente graças ao fato de que a universidade já desenvolvia testes com outros coronavírus, causadores da Sars e da Mers, de forma que os dados de segurança sobre o composto já eram conhecidos, permitindo queimar etapas de testes.
A aposta é em uma técnica de vetor viral não-replicante: eles utilizam um adenovírus, que causa resfriado em macacos, mas foi reprogramado para não ser capaz de causar doenças em humanos. Esse vírus carrega uma parte do código genético do Sars-Cov-2 responsável pela produção da proteína “spike”, utilizada para invasão das células. A ideia é que, quando o organismo responder ao adenovírus alterado, ele crie imunidade contra a proteína do coronavírus, impedindo uma infecção.
A OMS RECONHECE 10 VACINAS EM FASES DE TESTES CLÍNICOS; CONHEÇA AS PROPOSTAS E O ANDAMENTO DE CADA UMA DELAS.
O Brasil acabou se envolvendo neste projeto e participará da terceira fase de testes. Serão 2 mil brasileiros participantes; os pesquisadores buscam profissionais da linha de frente no combate à Covid-19, já que têm mais riscos de contágio e permitirão analisar os resultados de forma mais rápida e precisa.
Os pesquisadores estão otimistas e preveem que podem ter um composto seguro e eficaz o suficiente para distribuição em massa ainda neste ano. Eles chegaram a prever que o desenvolvimento pode ser concluído em setembro deste ano.
- PFIZER-BIONTECH-FOSUN (ESTADOS UNIDOS)
A vacina da Pfizer é outra que tem avançado em passos rápidos, já tendo chegado à fase 2 dos testes clínicos, utilizando uma abordagem completamente diferente da vacina de Oxford.
O projeto, em parceria com a BioNTech, da Alemanha, utiliza a técnica de RNA, que não prevê o uso do vírus ou de suas proteínas, mas especificamente do seu material genético. A ideia é que ao incluir esse material no organismo, o próprio corpo humano produza as proteínas do vírus e gere a resposta imunológica sem gerar uma infecção.
Os pesquisadores estão observando quatro tipos de vacinas candidatas de RNA e analisando o quanto são eficazes e seguras.
A vantagem desse tipo de vacina é que ela é simples e rápida de ser desenvolvida, então se uma combinação genética não alcançar o resultado ideal, basta trocar a amostra de RNA e recomeçar os experimentos. A desvantagem é que o método nunca foi aprovado para utilização em humanos antes, então não há precedentes de sucesso e essa pesquisa seria pioneira.
- MODERNA (ESTADOS UNIDOS)
Assim como a Pfizer, a Moderna está apostando em uma vacina de RNA contra a Covid-19, o que permitiu à americana avançar rapidamente as etapas de desenvolvimento e entrar na fase 2 dos testes clínicos.
A empresa recebeu algumas críticas sobre a forma como divulgou seus resultados positivos na primeira etapa, já que ainda não publicou um artigo científico sobre o assunto. A empresa apenas divulgou alguns dados para a imprensa revelando que seus testes mostraram imunogenicidade e segurança para avançar para a etapa seguinte.
A vacina da Moderna tem recebido investimentos pesados para que continue avançando rapidamente. O governo dos EUA já reservou 300 milhões de doses do composto, mesmo antes de saber se ele realmente vai funcionar nas etapas posteriores.
- NOVAVAX (ESTADOS UNIDOS)
Outro projeto americano, a vacina da Novavax ainda está em uma etapa mais inicial dos testes clínicos. A empresa anunciou no fim de maio o início dos experimentos de fase 1, que tem escala reduzida para analisar a segurança do composto. Os resultados devem sair em julho, preveem os pesquisadores.
A farmacêutica está usando um terceiro método, diferente dos mencionados acima. Em vez de apostar em um vetor viral ou em RNA, a companhia utiliza subunidades proteicas do vírus, que preveem a inserção das proteínas do Sars-Cov-2 no organismo para que ele crie uma resposta imunológica, sem risco de desenvolver a doença. É a única entre as 10 empresas em fase de testes clínicos a apostar neste método.
- INOVIO PHARMACEUTICALS (ESTADOS UNIDOS)
Outra empresa americana, a Inovio diz que seu composto demonstrou “resposta imunológica robusca” nas fases pré-clínicas, que preveem testes in vitro e em animais. A empresa começou testes clínicos de fase 1 em junho, com as fases 2 e 3 em julho e agosto.
Para chegar aos resultados, a empresa também utiliza uma técnica genética, mas baseada em DNA, não em RNA. O conceito, fundamentalmente, é o mesmo. Insere-se o material necessário para produção das proteínas do vírus no organismo, que passa a produzi-las e criar a resposta imunológica contra elas.
A empresa já tinha em mãos alguns estudos para uma vacina que desenvolvia contra a Mers, causada por outro tipo de coronavírus. Segundo a empresa, testes clínicos de fase 1 e 2 mostraram “quase 100% de soroconversão”.
- CANSINO-INSTITUTO DE BIOTECNOLOGIA DE PEQUIM (CHINA)
A chinesa CanSino aposta em uma abordagem similar à de Oxford, utilizando um adenovírus alterado para carregar o material genético do Sars-Cov-2 responsável pela produção da proteína “Spike”. A ideia é gerar a imunidade contra essa proteína e impedir o coronavírus de infectar os vacinados.
A empresa se destacou por ser a primeira a avançar para a fase 2 dos testes clínicos, demontrando ser segura e gerando resposta imune nos poucos pacientes em que foi testada. Também foi fechada uma parceria para testes do composto no Canadá.
- INSTITUTO DE PRODUTOS BIOLÓGICOS DE WUHAN-SINOPHARM (CHINA)
Apesar do projeto da CanSino, a maior parte dos projetos chineses envolve o método mais tradicional de vacina, utilizando o vírus atenuado ou inativado. Neste projeto, o Sars-Cov-2 é totalmente inativado, tornando-se completamente incapaz de provocar a doença, mas o organismo ainda o reconhece como uma ameaça, permitindo a criação da resposta imunológica.
Em casos de vírus atenuados, eles são apenas enfraquecidos e existem algumas situações raras em que há uma mutação que pode criar complicações para a pessoa após a aplicação da vacina. Com o vírus inativado, isso não é possível.
As pesquisas dessa vacina também já chegaram à segunda etapa dos testes clínicos, ainda sem uma previsão para avançar para a fase 3.
- INSTITUTO DE PRODUTOS BIOLÓGICOS DE PEQUIM-SINOPHARM (CHINA)
Outra vacina com envolvimento da Sinopharm, o projeto de Pequim também se apoia em um vírus inativado, mas parece estar avançando mais rapidamente.
As pesquisas ainda estão na fase 2 dos testes clínicos, mas em redes sociais, a Comissão de Administração e Supervisãod e Bens da China, que supervisiona a Sinopharm, afirmou que acredita que os testes seguirão adiante rapidamente, com a possibilidade de que o composto pode estar pronto para aplicação em massa já em 2020.
- SINOVAC (CHINA)
Outro projeto de vacina chinês baseado em um vírus inativado, que está avançando rapidamente em seus experimentos. Pesquisadores chegaram a declarar terem 99% de certeza de que ela será funcional.
Os testes seguem na fase 2, sem previsão para o início da fase 3, mas já há conversas para que a vacina comece a ser testada no Reino Unido.
- INSTITUTO DE BIOLOGIA MÉDICA/ACADEMIA CHINESA DE CIÊNCIAS MÉDICAS (CHINA)
O projeto é o mais incipiente entre as vacinas chinesas, ainda limitado à fase 1 de testes, com um grupo pequeno de voluntários. Os testes clínicos começaram no fim de maio, ainda sem uma previsão de progresso para as etapas seguintes.
Novamente, o projeto envolve uma versão inativada do Sars-Cov-2 para gerar imunidade contra a Covid-19.